John Wick 3: Parabellum - Balé visual no embalo da ação máxima

Em 1971, no programa “Pierre Berton Show’, Bruce Lee, ator e mestre das artes marciais coreografadas, explicava sua filosofia de fazer cinema:
- A água que corre nunca se estanca, assim então, você tem que continuar fluindo.
Em “John Wick 3 – Parabellum”, o diretor Chad Stahelski realiza uma torrente de ação que se molda a cada cenário atendendo ao que o roteiro propõe com uma fluência impressionante. Chad, que trabalhou em vários filmes como dublê, incluindo o sucesso Matrix, com Keanu Reeves, se uniu ao ator para lançar em 2014 o projeto John Wick. O personagem criado pelo roteirista Derek Kolstad foi tão bem sucedido que resultou em um segundo filme em 2017, “John Wick – Um Novo Dia Para Matar”, e agora vem um terceiro capítulo. 
A história começa exatamente onde John Wick terminou o segundo filme. O protagonista foge do icônico Hotel Continental, em Nova York, após quebrar uma das regras fundamentais quando matou um chefão da máfia no local. O Parabellum do título significa “prepare-se para a guerra”. De fato, vamos acompanhar as novas conexões de Wick, na jornada para sobreviver aos matadores. A cabeça dele está valendo 14 milhões de dólares. 
O universo de John é no limite do real. Um exemplo é a cena na estação Grand Central, um dos ícones nova-iorquinos. As centenas de pessoas que circulam pelo lugar quase não se afetam com a ação dos perseguidores de Wick. No mundo das gangues é melhor fingir que não viu. Para confirmar essa linha tênue entre realidade e ficção estilizada, a originalidade do design de produção de Kevin Kavanaugh e da fotografia de Dan Laustsen (de “A Forma da Água”) contribui decisivamente na construção desse mundo.
O elenco está alinhado desde a concepção de figurinos até a construção das personalidades. A andrógina Asia Kate Dillon (da série Billions) é a “Juíza”, uma representante da cúpula da organização criminosa que aparece para punir os aliados de Wick e certificar a morte dele. Angelica Houston está impecável como instrutora de uma gang de assassinos-bailarinos russos. Ian McShane volta como Winston, dono do Continental, e Laurence Fishburne, como Bowery King, revive com Keanu, os ótimos tempos de Matrix. Aliás, uma frase marcante do filme de 1999 reaparece de forma bem adequada. 
No balé frenético e violento de John Wick, o diretor Chad Stahelski não perde a rédea da história e abre caminho para mais. Três sequências merecem atenção. Uma envolvendo cavalos. Divertida e referencial ao cinema clássico. Outra, com a participação de Mark Dacascos, lutador de primeira linha do cinema. Reeves protagoniza com ele um confronto único em uma galeria de vidro. O som do piso envidraçado provoca a sensação de contagem regressiva ou batidas do coração. Sobrevivência entre peças samurais e caveiras de cristal num efeito estético que considera a dramaticidade do resultado da luta e a inventividade da execução. E a terceira, é claro, ligada a cachorros. No primeiro filme John Wick vingou a morte da fofinha Daisy, filhote de beagle, no segundo seu pitbull foi parceiro e no terceiro reinam os pastores belgas de Sofia, personagem de Halle Berry. 
Keanu Reeves, aos 54 anos, está no ritmo da música: tranquilo e infalível como Bruce Lee. 

Comentários

Postagens mais visitadas