A Ilha dos Cachorros - Estreia


Na obra mais política da sua carreira Wes Anderson, em “A Ilha dos Cachorros”, cria uma urgente visão sobre duas questões mundiais gravíssimas: os exilados e a disseminação de notícias falsas para criar medo. A mentira contada tantas vezes que é absorvida como verdade, a manipulação e os excluídos. Como dar conta de tudo isso, e com profundidade, numa animação? 
O cinema de animação oferece verdadeiras joias na arte de falar do mundo com propriedade sem abrir mão da poesia. A Disney historicamente com esse viés e recentemente através da Pixar com “Toy Story”, “Wall-E” e “Divertida Mente”, só para citar três entre muitos. E o que falar de obras-primas como “Persépolis” ou as produções do Studio Ghibli, em especial “Túmulo dos Vagalumes”? Wes Anderson, que já tinha investido com êxito em “O Fantástico Sr. Raposo”, dessa vez acerta em todos os pontos com os cachorros. 
Na trama, Atari Kobayashi, um garotinho japonês de 12 anos, vai até a ilha em busca do seu melhor amigo cão Spots. O menino mora na cidade de Megasaki, sob a tutela do prefeito Kobayashi, um tirano corrupto que aprova uma nova lei que proíbe os cachorros de morarem com seus donos, criando a farsa de uma doença. Claro que interesses econômicos estão por trás do exílio dos bichinhos que vão ficar isolados numa ilha depósito de lixo. Atari tenta resgatar seu cão e chega ao local num mini-jato. Logo vai fazer novos amigos e descobrirá muito mais sobre tudo que envolve aquele mundo irracional.
O sólido roteiro de Wes Anderson e o design de produção primoroso de Paul Harrod e Adam Stockhausen, a beleza na reprodução da textura dos animais, com apoio de um elenco de vozes liderado pelo genial Brian Cranston que incluiu Tilda Swinton, Frances McDormand, Scarlett Johanson, Greta Gerwig, Bill Murray, F.Murray Abraham, Ken Watanabe, Harvey Keitel, Edward Norton e a especialíssima Yoko Ono, fazem a magia acontecer em meio a citações dos mestres Akira Kurosawa e Hayao Miyazaki, da arte da xilogravura e dos mangás, da dança do Butoh e do ritmo contagiante do batuque do Kodo. Uma celebração da compaixão, da amizade e do espírito revolucionário para todas as idades.

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