A Força Desperta

Não é um filme. Não é uma saga. É uma paixão. Após 38 anos, a Força de Star Wars está ainda mais luminosa. Aliás, a Luz está na cabeça de J.J.Abrams que teve a difícil missão de despertar essa força num ato de ousadia extrema. Após os fracos episódios 1 e 2 e do esforçado episódio 3 apresentados a partir do final dos anos 90, com muita tecnologia, o criador George Lucas vendeu seu universo para a Disney. Mas acima da potência financeira, o primeiro e maior acerto foi trazer Abrams para dirigir. Após grandes feitos na TV como as séries Alias e Lost e os acertos no cinema com o spilberguiano Super 8 e o bom trabalho com a saga Star Trek, J.J. é o diretor da escola dos cineastas criadores de legiões de fãs que surgiu nos anos 70. Ao frescor do diretor da nova geração se juntaram a produtora Kathleen Kennedy parceira de Lucas em Indiana Jones e o roteirista de Indiana, o mestre Lawrence Kasdan. Criou-se um enorme segredo sobre tudo, mas sem dúvida, o mistério valeu a pena. A história surpreende por vários aspectos sem nunca perder a coerência, a humanidade. Abrams não trouxe elementos novos. Ele colocou a criação revolucionária na mais alta potência da emoção. No panteão do cinema clássico. O filme é uma homenagem a Lucas e a sua equipe técnica e artística.
Neste primeiro reencontro, temos batalhas dentro de planetas com naves parecendo helicópteros de Apocalipse Now ao Sol. Esse tom realístico é uma resposta ao delírio tecnológico da trilogia fracassada que contava a origem de Darth Vader. E neste caso o uso do 3D é muito bem aproveitado com batalhas sobrevoando nossas cabeças. A abertura do filme tradicional com os letreiros ligando perfeitamente passado e presente. Leia está à procura do irmão Luke e uma nova ordem do lado negro da Força está semeando o mal e construindo uma imensa Estrela da Morte. A abertura é seguida por dois símbolos. Um dos maiores atores vivos, Max Von Sydow e uma das maiores revelações recentes Oscar Isaac. Sydow como um conselheiro dos rebeldes e Isaac, um exímio piloto. Mas é na dupla de protagonistas que investimento foi mais ousado. Os dois atores são ingleses e nasceram no mesmo ano com apenas um mês de diferença. Os desconhecidos John Boyega e Daisy Ridley conseguiram ganhar a plateia logo nos primeiros minutos de exibição. A química perfeita. Ele é Finn, alívio cômico e stormtrooper desertor que se rebela contra a covardia. Ela é Ray, uma encantadora catadora de sucata que vai se tornar a força feminina autêntica. Uma atuação cheia de nuances entre a força e a delicadeza. Uma bela descoberta de atriz. Adam Driver tem a difícil missão da vilania e a faz com êxito. Numa cena chave poderemos ver o ótimo ator que está sob a máscara de Kylo Ren. Ele representa a safra dos vilões de hoje, que na vida real estão mais cruéis como terroristas do Estado Islâmico. Já Domhnall Gleeson, como General Hux, ainda terá o que mostrar na representação da intolerância e da politicagem de grupos do que antigamente chamávamos de “direita”, como a turma da doutrina Bush e Donald Trump. Em “O Despertar da Força”, esses vilões também estão mais cruéis, intolerantes, e principalmente, rancorosos chegando ao patamar da tragédia grega.
Os atores veteranos foram introduzidos de forma natural e Harrison Ford tem a participação mais ativa sendo o velho cowboy do espaço que Han Solo sempre foi. A princesa Leia de Carrie Fischer, agora também General, surge mais velha, mas com serenidade e sabedoria. E lá estão o co-piloto Chewie, os androides R2D2 e C3PO e a nave Millenium Falcon que é quase um personagem dessa nova trama. O novo androide BB8 é uma fofura corajosa. A trilha icônica de John Williams é usada como memória e texto para introdução dos personagens e sinfonia da ação. Os cenários monumentais acolhem a ação dentro e fora das naves com os efeitos de profundidade já clássicos desde Uma Nova Esperança, de 1977. Um filme com diálogos arrebatadores e aparições de personagens que desejamos abraçar de tanta saudade da nossa infância. Aliás, a nova geração já abraçou o universo de Star Wars.

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