O Regresso - Confira a crítica do filme estrelado por Leonardo Di Caprio


Sobreviver. Esse instinto humano em estado puro está em “O Regresso”, sequência de retratos da busca essencial. Alejandro González Inarritu nos apresenta Hugh Glass que no século 19 enfrenta o inverno rigoroso da América do Norte com o filho mestiço adolescente para caçar e garantir o sustento. Outros homens estão com eles nessa busca e um deles, John Fitzgerald, não tem honra. Índios querem afastar a presença dos homens predadores no confronto pelo espaço da terra e pelos recursos ambientais. 
O mexicano Iñarritu realiza um filme pictórico. Somos observadores das sensações daqueles homens e a visão se assemelha aos painéis do Museu de História Natural de Nova York que reproduzem a vida campesina e os ambientes selvagens de terras norte-americanas. Para isso contribui valorosamente a belíssima fotografia do parceiro de Alejandro, em “Birdman”, o insuperável Emmanuel Lubezki. Os planos-sequência são usados a favor da ação e da imensidão de neve em que o sangue bruto de homens e animais disputam a sobrevivência. Se no premiado Birdman a encenação ocorre nos corredores claustrofóbicos do teatro, em “O Regresso” tudo se movimenta em um espaço amplo e natural. 
A trama é aparentemente simples, e isso não é redutivo. É um mérito. O fraco é engolido pelo forte, mas precisamos lembrar que sempre há a vingança e Glass vai em busca de Fitzgerald para um acerto de contas. O mundo selvagem é assim. Glass é quase dilacerado por um urso, numa das cenas mais impressionantes do cinema dos últimos anos, diante dos nossos olhos, mas que quase podemos sentir. Mas ainda terá Fitzgerald pela frente. Humanos. Um desenvolvimento de roteiro feito com precisão por Iñarritu e Mark Smith inspirado parcialmente na obra de Michael Punke. A trilha sonora do consagrado Ryuichi Sakamoto completa as sensações visuais da pintura na tela. O mestre de “O Último Imperador” nos oferece mais uma emocionante experiência musical com destaque para “Revenant Theme” e “Imagining Buffalo”. 
A expectativa criada em torno de um possível Oscar para Leonardo DiCaprio, como Glass, não é nenhum exagero, mas já sabemos o ator arrebatador que é Leonardo. Esse talvez seja o filme em que menos ele precisou mostrar, mas há pelo menos duas cenas fundamentais que o colocam na condição de vencedor por justiça. Há que se destacar também seu oponente dentro da trama. É impressionante o total despojamento do britânico Tom Hardy que mais uma vez entrega uma performance de compromisso total com o diretor com seu Fitzgerald. 
Com 12 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, direção, fotografia e os dois atores citados, “O Regresso” é a prova de que cinema em grande escala se faz com os melhores em suas especialidades e com as maiores ousadias, correndo riscos nessa selva hostil.

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