Costa-Gavras retorna com seu potente cinema político

 

A rejeição à política semeada no Brasil nos últimos anos com agressões ao Estado Democrático e de Direito, transformou o país no campo fértil da ignorância. Quem ignora a presença da política em todos as práticas sociais está longe do pacto civilizatório. No cinema, poucos abordaram a política com tanta potência quanto Costa-Gavras. Para nossa civilidade, aos 88 anos, o grego está em plena forma criativa em “Jogo do Poder” (Adults in the room) que estreia nos cinemas. Um intenso balé entre o diálogo e a estratégia num mundo pouco generoso.  

Nesse retorno à terra natal, Gavras aborda a grave crise da dívida grega em 2015. O roteiro, assinado por ele, é baseado no livro de memórias “Adultos na Sala: Minha Batalha Contra o Establishment”, do ex-Ministro das Finanças Yanis Varoufakis, personagem central no longa. 

O cineasta de “Z” (1969), “Estado de Sítio” (1972) e “Desaparecido: um grande mistério” (1982), que lhe rendeu a Palma de Ouro e um Oscar de roteiro adaptado, detalha a tensão de um país e dos gabinetes mostrando manobras para salvar bancos e o preço que o país paga por isso com uma dívida que só cresce e as consequências para os cidadãos. 

Com o próprio Yanis como consultor, Gavras construiu uma narrativa fluente e humana sobre a conturbada negociação com a União Europeia, o FMI e as lideranças políticas internas no governo de Alexis Tsipras. O ator Christos Loulis interpreta Yanis do ponto pragmático até o comovente diante de muitas reviravoltas e do sentimento que as decisões podem custar ao país. Há uma angústia que nos aproxima dos gregos diante das impotências geradas pela imposição capital.  

A obra tem a imensa colaboração da trilha sonora do consagrado Alexandre Desplat. No ritmo do Sirtaki, a popular dança que nos remete a “Zorba, o grego”, a música flui irônica pontuando o drama. A conclusão tem uma solução cênica brilhantemente executada por Gavras. Um filme que fica com o espectador para pensar a vital diplomacia e as investidas opressoras dos nossos dias. 




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