ASSUNTO DE FAMÍLIA - A riqueza da contradição
ASSUNTO DE FAMÍLIA
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano passado, “Assunto de Família”, de Hirokazu Kore-eda tece a reunião familiar disfuncional de um Japão pouco explorado, mas acima de tudo, recheado de questões universais. Os acontecimentos se encaixam em qualquer país porque as necessidades emocionais ou institucionais são comuns. É um filme sobre humanidade com fraquezas, espertezas e muitas virtudes surpreendentes.
A trama começa com Osamu (Lily Franky, de outro Kore-eda grande, “Pais e Filhos”) praticando pequenos roubos nas prateleiras de um supermercado. Ele usa o filho Shota (Kari Jyo) como comparsa para os crimes. A mulher dele Nobuyo (Sakura Ando) trabalha num lavanderia, mas também gosta de furtar. Outro membro da família é Aki (Mayu Matsuoka) que faz programas pornográficos e eventualmente se envolve com um cliente. Completando o grupo, a avó Hatsue (Kirin Kiki que morreu em setembro passado) é peça fundamental para o sustento da família por conta da pensão que recebe.
Num lar precário, mas cheio de acolhimento, há espaço para mais um. Numa noite, Osamu e Shota encontram a garotinha Yuri (Miyu Sasaki) tremendo de frio num beco e com marcas de abuso pelo corpo. Eles levam a menina para a casa deles e em pouco tempo Yuri estará “ajudando” nos roubos. Observe que na família de natureza trapaceira, o filme vai revelando seus personagens com riqueza de nuances e, dando conta, principalmente, de dois males do século XXI: a falta de atenção com as pessoas e o abandono infantil. Nos olhares do menino Shota e de Yuri há pureza. O jeito de ver tudo mais simples, verdadeiro e essencial.
Kore-eda trata essa família com delicadeza e muita habilidade quando as pontas começam a se ligar. Um destaque no elenco para Sakura Ando como Nobuyo. Ela tem uma cena-chave de imenso impacto emocional. Comove num momento em que a posição da personagem não é eticamente favorável. Enfim, esse belo exemplar do cinema japonês fala de questões éticas e principalmente humanas no mundo contemporâneo cheio de contradições na linha tênue entre o certo e o errado.
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