PROJETO FLÓRIDA - Crítica


Numa solução estética que remete histórias em quadrinhos em meio a drama americano “Projeto Flórida”, de Sean Baker, é uma joia do cinema independente filmada com pouco dinheiro mas muito senso de linguagem e sociedade. A trama é aparentemente simples. A menina Moonee (Brooklynn Prince), de uns 7 anos, vive em um quarto daquelas típicas moradias baratas da vizinhança de Orlando, com a mãe solteira e grunge Halley (Bria Vinaite). Moonee passeia e faz travessuras na companhia dos amiguinhos Scooty (Christopher Rivera) e Jancey (Valeria Cotto).
Diretor de “Tangerine”, filmado com Iphones, dessa vez Baker utiliza uma fotografia que aproveita a solar Orlando e as multicores das construções e das fechadas do comércio. O design de animação ou HQ aparece principalmente nos planos abertos mostrando as crianças caminhando sob o céu azul e nuvenzinhas ao fundo. Ao olhar as crianças, é fácil lembrar da turma da Mônica ou Luluzinha. 


No entorno de uma cidade que vive da influência do parque Disneyworld, tudo é um mundo de fantasia refletido pelos estabelecimentos comerciais. A abertura do filme é com “Celebration” do Kool and The Gang, uma ironia com a realidade desencantada que o filme vai apresentar a seguir. 
“Projeto Flórida” é sobre a América dos perdedores, dos subempregados, das crianças e adultos alimentados em fast-foods. Moonee é a representação da pureza da infância que não tem noção do caos em que vive. O amor da mãe muito jovem é torto e pouco efetivo na educação da menina. A própria mãe não tem maturidade suficiente para enfrentar os desafios de um país que exige resultados. Vende perfume falso e até se prostitui para sustentar a menina. Ela, por meios tortos, quer ser uma mãe de verdade. Cabe a Willem Dafoe, numa atuação indicada ao Oscar, ser o gerente da moradia que tenta manter tudo em ordem e ao mesmo tempo o esteio de todos os desencantos de Moonee, Halley e vizinhos, entre eles uma idosa que se sente à vontade para fazer topless na piscina do condomínio. Quebra de regra. As pessoas são o que são. Moonee e sua mãe enfrentam uma dura realidade. Ao final será na pureza das crianças que vai prosperar a solidariedade.


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